terça-feira, 13 de novembro de 2012

É MELHOR NÃO OLHAR PRA NÃO VER

ÀS VEZES O QUE EU VEJO QUASE NINGUÉM VÊ



Plutão para os romanos era Hades para os gregos. Irmão de Zeus e Poseidon. Muito se fala dos dois outros deuses, mas Hades ficou renegado à escuridão do conhecimento popular. Por estar relacionado à morte, provocava medo na Grécia Antiga, motivo provável para não pronunciarem muito seu nome ao longo do tempo.

Então vou contar uma história bonita que ouvi sobre esse deus que aprendi a gostar (talvez por identificação).

"Não falo como você fala, mas vejo bem o que você me diz."

Quando Cronos (o pai dos carinhas) foi destronado, Zeus ficou com o céu, Poseidon com o mar e Hades com o mundo inferior, da podridão, dos mortos.

Pode-se pensar que Hades se deu mal, mas a ironia do destino provou que Hades era o mais poderoso de todos, pois percebeu que lá embaixo o mundo era rico, cheio de pedras preciosas e, melhor, tinha uma visão privilegiada (afinal ninguém sabia o que ele via) das coisas obscuras dos outros deuses e dos homens. Conhecia todos os segredos. Sabia de tudo, mas não fazia uso desse conhecimento.

A força de Hades era tão densa que o fazia derrubar tudo ao redor quando passava. Tinha o dom da telecinesia, mexia algumas coisas com o poder da mente e explodia outras com o poder do olhar. Criaram então para ele um capacete para conter esse "olhar 43".

Cresceu vendo a destruição que era invisível para os outros e de tanto ver coisas erradas, feias e injustas, desenvolveu um grande ódio de si mesmo e do mundo. Acabou optando pela solidão por essência.

Além de estar escondido no submundo, fazia também em volta de si um campo de força e ninguém o conseguia ver. Porém, vez ou outra, quando se saturava de ver tanta podridão aqui na superfície ele subia e destruía tudo. Conhecemos esse fenômeno como TERREMOTO. Todo mundo sabia quando ele estava na área: aquele barulhão dos movimentos tectônicos e um silêncio constrangedor depois... Quando sua carruagem ia embora, deixava um buraco na terra. Todos sabiam que a natureza tinha sofrido um castigo pelos maus hábitos dos deuses e homens e a destruição era a prova cabal da punição sofrida. Era hora de cada um enfrentar sua verdade.

Hades representa, portanto, o ato de você enfrentar as próprias escolhas na hora da morte. Antes de chegar até Hades, o morto tinha que ir no barco de Caronte pelo rio Estige e esse já ia adiantando o expediente. Caronte puxava papo e o morto ia contando sobre sua vida. Caronte então decidia para onde levar o falecido: para o Paraíso (Campos Elísios) ou o Limbo (purgatório). Esse segundo lugar propiciava um tempo para eliminar mágoas, ódios ou o apego às questões terrenas.

Na hora do encontro final com o deus, Hades tirava o capacete e sugava a pessoa para o seu mundo com os olhos. Depois que a pessoa tinha refletido sobre seus feitos e enfrentado suas verdades, Hades então refazia o corpo que ele tinha absorvido.

Hades ajudava a pessoa trazer à tona o que realmente era importante, tudo aquilo que já sabia, mas ainda não tinha compreensão. A necessidade de reconhecer o que de fato conta na vida.

A grosso modo, o diálogo seria mais ou menos assim:

Hades; Vou cortar seu braço. Você prefere que seja o esquerdo ou o direito?
Morto: O esquerdo.
Hades: Qual o motivo da escolha?
Morto: Sou destro.
Hades: Ótimo, você fez a escolha certa. Agora você pode ficar com os dois, mas nunca mais se esqueça da importância que ambos têm para você!

Escrevi tudo isso pra dizer que por volta dos 35 anos, Plutão passa a ter grande influência em nossa vida. Portanto, chegou a minha hora da verdade. O que realmente importa? O que devo dar continuidade, reconhecer a relevância e o que devo jogar no lixo? Quais reviravoltas eu mesma causarei, que frustrações enfrentarei? Que contribuições farei pra mim e pros que estão em volta? O que vale a pena de fato? O que precisa ser aperfeiçoado e o que é tão medíocre que pode desaparecer?

Hades propõe duas ações na carta Morte do tarô:


  • Positiva - a destruição trasnformadora
  • Negativa - transformação destrutiva


Detalhe... e se logo nessa fase de conversar com o Grilo Falante fantasiado de Darth Vader, Saturno estiver brincando de cabo de guerra com Plutão? 

Leia aqui: caminhão